3 de nov. de 2010

Um grito tribal explode em meu peito

Quão grande é a minha vontade de ser um selvagem

(de voltar a ser selvagem)

Correndo na mata não sou tão diferente de qualquer animal

Ofegante, escuto meu coração

Penso sem usar o cérebro, penso... só penso;

Penso com os músculos, com os nervos, com os dentes e ossos...

Penso sem pensar!

Penso sem parar!

Sem parar de correr grito para minha tribo

(e o grito ecoa no infinito da alma)

A tribo sou eu – minha tribo de mim

E me agarro a mim como se fosse o último

E no fundo percebo o selvagem que sou

E contemplando o universo: quem sabe o único?

22 de out. de 2010

As putinhas pressionam:
O poeta:
por conta das brochadas.

As namoradas pressionam:
O poeta:
por mais atenção.

As mulheres pressionam:
O poeta:
por uma poesia.

As mães pressionam:
O poeta:
por responsabilidade.

As poesias pressionam:
O poeta:
por eloqüência.

As consciências pressionam:
O poeta:
por mais daquilo.

Mas tá bom,
Tudo bem...
Poetas pressionados:
Não ligam pra porra nenhuma!


.

7 de out. de 2010

Após o caos a calmaria
Depois da guerra
A redenção

Brigas e beijos
Molhados e secos
Trajetos e ensejos
Tragados a seco

Trazem-nos a tona
Levam-nos a cama
Somam-nos a vida
Nos soma quem ama

Após a guerra
O amor
Depois do sexo
A fixação
(Após o caos a redenção!)


...

12 de ago. de 2010

Aos 10 anos de idade
Não se pensa no futuro.
Nesse período não se tem passado...

Aos 20 anos se vive sem parlamentos,
Sem planejamentos. E se nega ao passado.

Aos 30 anos você é seu futuro aos 30;
Você ama seu passado.

Não faz sentido amar a idade
– não há direção no tempo...
Em tempo:
Só há vaidade!

9 de ago. de 2010

Longe de mim, mantive-me.
Há muito tempo precisei fugir.
Agora volto em equilíbrio,
e não me aceita, meu próprio abrigo,
já não me quer cobrir.

Desfaço minha alma sem tocá-la,
não sei o que desmancha em meu corpo.
Desacredito, em minha honestidade,
no desejo que recobre e abre:
A falsa vontade do novo.

Então me retrato a distância,
comigo não consigo mais falar...
Destrato a importância que não tenho.
Contenho o meu choro por mim mesmo.
A mim mesmo preciso atravessar.

.

19 de jul. de 2010

Sinto-me meio estranho ultimamente.
As coisas, muitas coisas de minha vida,
Me angustiam e enfraquecem.
Outras, como não haveria de ser diferente,
Tornam-me mais forte!
Tenho sérios problemas comigo mesmo;
minha cabeça não gira como o mundo:
Sou vários...

Algumas pessoas julgam me conhecer. Mas não me conheço!
Por que se faz tão necessário o reconhecimento diário de si mesmo?
Há um eu incontrolável e pulsante, belicoso, Espartano bêbado.
Há um eu sensual e delicado, inconseqüente, Ateniense bêbado.
Um pudico e outro devasso.
Uma fêmea e um macho.

Tenho um glutão faminto e maleducado dentro d’um garoto nobre e tímido.
Sou um monstro tão grande quanto um ciclope da Odisséia!
E, sou, um pai ausente angustiado...
Um Deus,
Um semideus,
E um homem;
Um homem nu.
Somente nu...


.

17 de jun. de 2010

Existem momentos...
em que se projetam imagens do (nosso) futuro em nós.

O medo do fracasso ronda nossas empreitadas,

como se fôssemos (pequenos) roteiros de férias.

Tiranicamente nos sobram aos braços nossos sonhos,

(embrulhados) como presentes festivos.

É irônico como os sonhos (freqüentemente) são confundidos:

com faturas do cartão de crédito.

O mundo todo se desfaz

e nós (continuamos) a projetar qualquer felicidade
a médio prazo; enquanto perdemos cabelos e (ganhamos) peso!

Tememos ficar velhos, (gordo/magro ou careca),
sem ao menos ter tocado a face

da plena REALIZAÇÃO-SEXUAL-CAPITALISTA...

#

13 de jun. de 2010

Não me vejo em nada
Poucas coisas me felicitam inda hoje
Não vejo graça em trepar
Trepo só pra não ser mais diferente

Sofro péssimas influências
Tanto nas leituras, como nos relacionamentos.

Não preciso de apegos externalizados
Preciso, agora, de sutilezas
Algum dono dos sonhos me disse: Durma
Mesmo sabendo das angustias do sono
(Que é como um retornar a morte...)

Não sou diferente de ninguém
Nem de mim
Não sou parecido com ninguém
Nem comigo
Não quero recobrir a mentira
Só a vaidade
Não quero encobrir o frio
Só os fatos

A falta de inteligência e compreensão
É um dos pilares axiomáticos de toda natureza perceptiva humana
Embora os mais ousados não necessitem dessa percepção

A natureza fez-nos tolos e fortes
Portanto na essência jamais vence-la-emos

O medo de saber-se é o tocar-se sem auto-suficiência

Há construção sem operários famintos?
Sem ideais arquitetônicos?

6 de jun. de 2010

Meus terceiros sonhos da noite
Sempre foram regados a drogas e violência
Numa sensação de poder e impunidade que me toma
Podendo matar e estuprar sem culpas cristãs nem burguesas

Ao despertar por completo do açoite
De meus oníricos festins à grandiloqüência
Sob a ducha fria e calculista que então me doma
Devo me masturbar carinhosamente como atrizes francesas

Mas quando caio de meu mundo napoleônico
Percebo que sou orgânico demais
E não biônico

Engulo atravessado comprimindo os meus ais
Da falha do meu projeto faraônico:
Ser mais capaz

#

26 de mai. de 2010

Às vezes eu mesmo penso
depois eu logo digo
em horas eu fico tenso
minutos eu já não ligo.
Com os anos me vou embora
segundos não primeirou
comigo não há demora
contigo não demorou.
Se digo o que penso falo
meu Falo não te pertence
momentos eu mesmo calo;
que o Calo já não se sente
e as pedras eu não resvalo
que amores a gente mente.

13 de mai. de 2010


Antes, muita asma, havia em mim
Uma impotência absurda ao respirar
Um vácuo insuportável a sufocar
Um passeio interrompido n'algum jardim...

Depois, em mim havia, bem pouca asma
Meu peito ainda inflava mui lentamente
Como um mergulho da superfície inda calma
Pras profundezas de tua alma contracorrente...

Durante, agora sei, faltou teus ares
Que aqui não coube então teu universo
E tudo isso me inspirou assim diverso
Trazendo-me desconfortos pulmonares...

No fim eu encontrei o meu remédio
Não contigo, nem sentigo: tão sozinho
Minha asma é um pássaro do meu tédio
Não tendo asas, fez de mim, meu próprio ninho...


.

28 de abr. de 2010

Para Gabrilha

Talvez não seja uma boa analogia:
Não tocaria você
como quem toca uma agenda metódica de encontros burocráticos.
Tocaria sim,
como quem toca o último cigarro do dia antes de desabar em sono.

Não tocaria você
em cima de altos tamancos e belos adornos!
(como uma inútil taça rodeada de medalhas)
Assim toco cédulas frias em minha carteira!
Prefiro teus pés descalços sem desconforto,
teu contorno...

[As camas e as cadeiras são boas,
mas não submissas.
As redes e os sofás nos abraçam.]

E uma estante com pesados livros plenos de pesadelos,
com efeito, toco.
- Como roupas sujas e engomadas...
- Como palavras trancafiadas num poema...
- Como bailar embriagado numa noite sem orgasmos...
- Como o sorriso disléxico das pequenas coisas que nos odeiam...

Mas nem de longe tocaria neles se deles não fossem feitos alguns dos nossos maiores desejos.

Com objetos que toco
pretender explicar o que sinto
como objetos que toco?

Como encher um copo
e querê-lo vazio!
Como esvaziar a alma
e sonhá-la repleta!

Toco as paredes frias do meu quarto e do meu corpo.
Ajusto as horas no rádio-relógio
e tua falta silenciosa
toca em mim,
sonoramente,
de manhã,
às 10:15
em pon
to.

2 de abr. de 2010

Apesar
Da velhice que me assombra
Da rabugice normal da idade
Da solitude comum com as pessoas
Da solteirice imposta e agora convicta...

Apesar
Da leveza macia da alma
Do pensamento rápido e sincero
Das conversas metafísicas de amigos
De toda honra, nobreza e hombridade...

Apesar
Das bebedeiras homéricas
Da decadência moral
Dos instintos reprimidos
Da espiritualidade latente
Da vitalidade pulsante
Da tresvaloração de todos os valores...

Apesar de tudo que forma
(e do nada que sou)
Do mundo que cerca
(e do além-mundo que me aguarda)
Ainda tenho um pouco de medo do escuro.

29 de mar. de 2010

Para Drica e Tiago, por ocasião de seus votos.
Amar na vida
De alguma forma
É ser medida
Sem ter a norma

Entra no jugo
Com teu amor
Regra de jogo
Sem vencedor

Pois nada disso
Mede uma régua
Se for preciso
Ame sem trégua

Perca o logos
Mude o ethos
Suba em topos
Desça em tetos

E algo que temas
Em vão será
Sumirão estrelas
Surgirá um mar...

11 de mar. de 2010

para Michel
Nada! Buscar plenitude no vazio.
(Cair em contradição calado.)
Responder perguntas simples
Com longos beijos...

Nada? Fugir da certeza de ser.
Preferir a cor do esquecimento.
Angustiado das questões da vida,
Negar os beijos...

Nada. Cobrir-se rápido de si;
Sentir calor aproximado
No confuso objeto do sujeito:
Pedir mais beijos...


%

2 de mar. de 2010

Parece que nasci para ter e perder as coisas.
Já tive de quase tudo
e já perdi mais de um bocado!

Já perdi brinquedos
e roupas;
Já perdi móveis
e elétrons;
Já perdi chaves
e trancas;
Calçados e caminhos;
Ideias e poemas;
Livros e pó...

O pó dos livros do meu quarto,
depósito de minhas células mortas;
Perdidas e achadas,
quando espirro.

5 de fev. de 2010

fugaz, como sua própria beleza.
sem profundidade, como sua visão de míope.
superficial, como todo seu epitélio.

assim ela era;
e assim eu a tive...


;

28 de jan. de 2010

Já que posso falar sem sexo
Cópula das coisas que emprenho
As vulvas que não tive, detesto
D’aquelas que virão me abstenho

Só sei do que sou destarte
Das músicas que faço noturno
Se creio plausível algum’arte
É crença no nobre Saturno

Mitos não tenho nem quero
Relógio no pulso é prender
O tempo como um sinestésico

O tempo pra mim é morrer
Prefiro então o anestésico
Que faz Eu dormir sem doer

...

10 de jan. de 2010

Ao contrário dos rapazes de minha época
Nunca fui de me masturbar no banheiro
Além de achar o local pouco relaxante
E um tanto inconveniente para tal prática
Sempre detestei a idéia
De meu sêmem
[com milhões de espermatozóides meus]
[e em todos eles meu código genético pulsando pela vida]
Ser lançado numa descarga frenética
Para ir nadar
MoriBUNDAmente
Numa grande caixa-de-merda.