16 de dez. de 2015


Seguindo o raciocínio indigesto da plenitude:
Há bastante morbidez em todo profissional de saúde.
Desse modo se suporta mais facilmente 
a vivência na dor alheia do paciente.

- Mesmo que seja para apaziguá-la.
Ressaltam os daquela área.

Quase que invertendo o raciocínio,
Não haveria política (nem sociologia)
Se houvesse perfeita social harmonia.

- Nem magistrados!!!
Gritam os injustiçados.

Tampouco existiriam filósofos,
Se a existência não causasse 
angustia alguma n'alma e nos ossos.

- Nem religiosos...
Oram os receosos. 

E assim o caos reina dentro da gente toda,
Numa busca indigesta de plenitude tola.

31 de out. de 2015

E de velhice é feita toda carne
Peneirada no selo da engrenagem
E o óleo que lubrifica a maquiagem
Vaporiza o terror dessa miragem

Pra morrer se acorda sem prazer
E do antigozo se traz outro trans-ser
Mas a peça não sustenta nem oprime

Azeitando a vida como é
E do peito ao chão cabe um pé
De nada serve de rodagem pra ninguém

Crustáceos crescem soltos pelo chão
E varizes enterram a plantação
Desfazendo-se na panela com manteiga.

30 de set. de 2015



A começar só por hoje
E nada mais pra dizer.
No raiar urina do dia,
Esper'amanhã perecer...

E pacientemente aguardo,,,
Alguma função do abstrato.
Absorto-Absinto-Semimorto!
Desejo qualquer substrato.

Se todo amanhã me redime,
Todo amanhar me afeta;
Sonho com tudo que aflige:
Que aflição deix’alma repleta?

E sempre começo de novo,
Pra nunca mais esquecer,
Clarear na mijada sadia,
Espermear de manhã e morrer...


...

2 de ago. de 2015

Minha vida é um livro na metade
Desencontro eterno do não-eu
Descompasso da própria identidade
Desaforo que ouvi de amigo meu.

Tenho rastro algum de humanidade
Despedaço de bicho que perdeu
Desencanto cantou até bem tarde
Desatino, tão cedo, aconteceu.

Já não sei
Se foi tempo
Da verdade;

Ou se foi
O espaço
Que cresceu.

29 de jul. de 2015

Em ocasião de visita ao poeta internado.

Hoje, justo hoje, nem sei que hora era
Comecei a sentir a boca anestesiada
Nesse dia fui rever Miró da Muribeca
E sonhei pra toda pereba uma pomada.

Eu digo hoje, porque logo hoje, era dia
De ir não recitar em canto algum
A boca mole na dormência adormecia
Baba dentro da fala do ziriguidum.

Mas quero deixar claro que foi hoje
Pois se fosse amanhã, também diria
Que a vida desse meu nego vale muito
E muito mais (ou menos) sua poesia.

7 de jul. de 2015

De Súbito!
De súbito, a racionalidade de um homem some como se nunca houvesse existido.
E o que existe?

Belas lembranças de momentos históricos, pairam na embriaguez de um não haver insistido.
E o que insiste?

Projeto ideias e vontades a respeito da espécie que faço parte e da qual desisto.
E o que não desiste?

A potência que agora exala de mim é a vida auto-afirmando a vida que suicido.
E o que não subsiste?
E o que não subsiste?

E o que não...

29 de mai. de 2015


Sendo eu feito nata
Meu soluço me engole
Minha dor é coalhada
Que o sorriso comove


O sabor não é farsa
Só reflete o que pode
Meu andor nessa graça
Minha vida dissolve


Não sinto gosto de nada
Nem do creme mais mole
Mas sendo a vida inata
Haverá quem me console

.

29 de mar. de 2015


Em minha rua mora um doente mental.
A casa é pequena,
mas o jardim é grande.

Moram vários doentes em minha rua...
A rua não é longa,
mas o jardim é o mundo.

14 de fev. de 2015

Pra Festa da Carne.

Muitas vezes:
Nos arrependemos,
De pequena coisa,
Diminuta lousa,
Tão vazia e solta,
Preenchendo à gota,
E no fechar da conta,
Essa coisa toda,
Não nos leva a nada.

D’outras vezes:
Nós nos orgulhamos,
De calar a boca,
De beijar na coxa,
Desabotoar a roupa,
Descobrir na sombra,
Que no fim da onda,
Dessa coisa louca,
Voltamos ao nada.

15 de jan. de 2015

Para o filme História Natural, de Júlio Cavani.

Reduzo as pontes desses trânsitos
Engulo a nocidade nessas pressas
Mastigo com caninos de felinos
Pedaços de teus bofes sem as pernas

Não uso bico nem a pra dizer
Que posso ter então alguma ideia
Mas fujo dessas grades sem saber
Qual bala no revolver inda me resta

No fim, de tão perto e espancado
Diria que sentei, pasmei suado
Desmaiei capotado no sofá

Sobrou-me a comeia desse banho
Proposta sobretudo de rebanho
Dirijo pr'outro filme à sonhar.


12 de jan. de 2015

Para São Zé do Egito

Pro Sertão eu retornei
Pra viver uma cantoria
Tanta coisa ali deixei
Tantas mais reencontrei
Tive paz e alegria

Pro Sertão do Pajeú
Volto sempre que puder
Não me alegra ir pro sul
Quero ver o céu azul
Olhos loiros de mulher

E se um dia Deus falar
(tão claro que eu possa ouvir)
Que o Sertão é meu lugar
Nunca mais vou xerocar
Dessa cópia minha matriz