9 de dez. de 2021

O Não-Ser não é impossível;

Há Não-Ser, não há?

Talvez o Ser seja plausível;

E o Tao também, tá?



17 de jul. de 2021

 

Somos insetos hedonistas

Exoesqueletos vazios

Artrópodes navegantes

Cujas patas navios.


Somos cupins no amor

E abelhas na bebedeira

Formigas sonhando cigarras

De segunda a sexta-feira.


Somos moluscos psicóticos

Equinodermos espinhentos

Às vezes míticos

Às vezes trágicos

Cnidários automáticos

Crustáceos mitômanos

Do profundo Egeu dos clássicos

Ao mais raso do mar dos Bálticos.


Somos aracnídeos de ternura

E platelmintos revoltantes

Saborosos e suculentos

Repulsivos e violentos

Dialéticos e cativantes.

26 de mai. de 2021

 

A boca é uma pulsão de vida.

O ânus é uma pulsão de morte.

Somos um tubo digestivo que pensa,

Em duas frentes, à própria sorte.


Tal qual insignificante deus que caga,

Tudo que é divino em nós: defeca;

Tudo que é defectível em nós: baba;

E transborda desonestidade no "milagre" que nos cerca.


Toda boca tem uma sucção de vida.

Todo ânus tem uma explosão de morte.

O intestino é uma jiboia embevecida,

Que tão sábia ensinou Eva a comer seu dote.


Todos temos na goela mentira e paixão.

Todos temos no estômago alívio e pavor.

Alguns tem a bunda de rabo de pavão,

Outros tem a língua de filme de terror.


Em todo beiço que treme há uma neurose;

Em muitos dentes, uma covardia;

Em todo cu que lateja há um caráter de psicose,

Que para si mesmo prega todo dia.


O ânus é como uma criança que envelhece.

A boca é como um adulto de partida.

A boca também a morte enaltece,

Assim como o ânus, defeca à vida.

12 de abr. de 2021

 

Ao menos uma vez na vida

Eu quereria vencer trapaceando

Mentindo, fingindo, iludindo, enganando.


Sovando as massas

Como um padeiro fascista.

Burlando as regras

Como os contraceptivos.

Interpretando o jogo

Como dono do tabuleiro.


E sempre saindo ileso, incólume, inalterado.


Usar argumentos pífios e inglórios,

Embusteiros e falaciosos,

E ainda assim ser aplaudido de pé pela audiência.


Negar a lógica, a razão, o bom senso, a ciência;

Pregar absurdos infames,

Vergonhas pestilentas,

E ser desejado pelo grau de (minha) virulência.


Corromper qualquer tolerância,

Dinamitar toda poesia,

Executar inimigos em plena luz do dia.

Ser seguido, curtido, comentado,

Compartilhado…


Mas atuar

Dá trabalho,

É por demais

Exaustivo,

E eu dei de ser preguiçoso,

Pra poder ser

Pensativo.

12 de mar. de 2021

(para DANI ELA, irmã amada.)

Mergulho na cama

Isso não é um crime

O sono é uma dama

E tão linda me tinge


Da tinta do sonho

Tanta cor me atinge

E aflige, eu suponho,

Nossa face de Esfinge


Mais do que dama linda

Sempre serás minha amiga

E com tinta e cor minha irmã


O sonho só vai onde alcança

Nosso sono é justo e não cansa

Dormiremos bem mais amanhã.


25 de fev. de 2021

Banho gelado

Ventilador no máximo

Mas o caos do mormaço

É estanque.


Beijo suado

No ar incondicionado

E o vírus lambuzado

Fica punk.


Bairro molhado

A cidade é um charco

O rio deixa um rastro

De sóis a pairar.


Baco cansado

Carnaval foi parado

Nesse barco ancorado

Precisamos remar.