31 de dez. de 2014

Para H.V.B

Farsa intelectual.
Fracasso financeiro.
Desastre afetivo.

8 de dez. de 2014

Pequenos ratos invisíveis moram no meu fogão.
Uso todas as bocas,
menos o forno.
Por isso nunca faço pizzas,
(apesar de adorá-las...).

Ratos inconsistentes a partir da dor de minha Mãe.
Partiu-se meu Pai
e se partiram as comidas gostosas de forno.

Talvez esses ratos sejam diminutos fragmentos egoicos, deles, incorporados em mim;
mas deixo sempre a tampa do forno fechada,
só pra ver se derreto
na temperatura abafada
do inconsciente ambiente!

24 de nov. de 2014

A medida que me mede
deixa tudo imensurável...
(KRATARATÁ-BACARARÁ)
Ecoa nos dentes um ranger imastigável.


Como medir o que cede secundariamente
na sede do maquinário do aquário da gente?
(BAKARARÁ-CRATARATÁ)
Zoada, bem alta, chega a ser indecente...


Producente,
talvez,
de mais barulhos;
menos moços, poucos céticos, outros velhos, muitos surdos!
(SHIESSSSSSSSSS... CHIIISSSSSSSSSSS...)
Tendo todos eles, quase sempre, imaginários:
Ouço cantos
poéticos
de submarinos CETÁCEOS.

3 de nov. de 2014

Para Juliana Maria

Sinto arrepios em meu couro cabeludo.
Sindo calafrios em meus braços condizentes com o que sentes como frio e o que não sentes...

Sinto minha boca bem fechada e bem dormente.
Sinto minha alma tão rasgada que não vês o que sinto e como sinto que te portas como rês...

Um cinto apertado na cintura
é como angustia que não sara nem se cura.
É como laço de gravata no pescoço:
Aperta músculo; aperta nervo; aperta osso.

Cinto pequeno no ventre baixo
é sempre por demais angustiado,
(pra comer é bem incômodo 
e pra beber é agoniado!).
Agora sinto que esse cinto
já não me cabe e é ruim:
me sufoca e me maltrata e me deseja e se retrata,
mas não serve mais pra mim.

12 de out. de 2014

Para Eduarda Simone

Acordo,
e tod'amanhã me oprime.
Acordo,
e vejo minha cama coberta.
Acordo e o acordar me define
como uma seita de cobras que estudam só pernas.

Acorda!
E pensa que absorve uma bússula...
Acorda
e confia no meu amor policial.
Acorda,
que a corda é a morte e acordar é não ser etc e tal.

13 de jun. de 2014

Minha vida é uma farsa
Já não sei o que fazer
Se eu compro
Ou se de graça
Outra vida possa ter

Já não vejo em nada graça
Acho tudo démodé
Mudo a cara
Tiro a máscara
Velha-Vida-Psiquê

Mas não vivo em desgraça
Morro mesmo sem saber
Nessa vida
Nada passa
N’outra vida vou vencer

16 de mai. de 2014

Sou um projeto de gente que deu errado;
Um pedaço de humano animalizado;
Uma vida que surgiu pra perecer...
Meu Eu-homem não serve para viver!

Não sirvo a nada, nem sou servido.
Não sou saudável, mas tenho sido.
E trago n’alma um Cão-herói:
Que nada ergue, fora de si, tudo corrói!

O que me resta é uma Meia-vida,
D’algum antibiótico bactericida,
Que nunca mata, nem me seduz;
- Às vezes oxida e noutras reduz!

10 de abr. de 2014



A possibilidade de ser repleto
É como uma jarra de barro que nunca enche.
É saco de quem caminha descalço na terra;
E de quem não quer que a terra vire lama.
Perder a calma como um bicho,
Tendo tal bicho nas roupas.
É deitar a cabeça sob um signo,
Sabendo das mãos insignificadas.
Correr como caneta
De juiz ou advogado,
É chaleirar o julgo
Da própria morte em vão...

Não há choro, nem permissão.
Não há de haver nada; sem unhas, sem solução.

Esvaziado de mim e do todo,
Com minha cabeça dentro do forno
De microondas que me fritam as poucas idéias.
Crianças brincando de mortas,
E nós, de formigas tortas,
No saneamento escroto da rua;
A chuva escorre no ralo.
A pomba só dorme no talo

Folhoso e quente sem porta.
Rapazes em pés-de-manga,
Chupando a vida alheia:
Ajuízam mergulhos sem fim.

Não há coro, segunda voz, ou tamborim:
Mesmo que houvesse mais pele;
Não há ossos, nem dentes, nem marfim!



10 de mar. de 2014

Para Vinícius de Moraes

Chiar como corda no pescoço
Cair na forca como condenado
Tentar sumir sem fazer esforço
Qual doce de leite condensado

Cabelos pintados pelo tempo
Uma cama bem feita e nada mais
Passeando levado pelo vento
Lembro canções de ancestrais

Preciso que penses o que quero
Desisto e não me desespero
Insisto na forma de Ogum

Não entendo qualquer mitologia
O sistema é minha mialgia
Dói, mas continuo bebum.

21 de jan. de 2014


Escondendo n’alma o que se refuta
Entrei teus dentes azuis-amarelos
Se fosse pitada morder como fruta
Tua vulva teria meus entes sinceros

Agora que posso fazer tal permuta
Espero que chores um sorriso afeto
Que debulharei tão pouco na luta
Qual emoção que me joga sem-teto

Vá e viva os outros dias
Quero jamais ver tais agonias
Assim como tento vomitado

Dispenso tu’alma pelo mundo
De ter vivido amor profundo
E logo menos regurgitado 

2 de jan. de 2014



Pensando como portas e como grades
Percebo que todo o mundo e toda gente
Por mais que ame, nem sempre sente
Que os cadeados são impropriedades

Travam passagens e fecham caminhos
E entram nos sonhos das fechaduras
São como os textos dos pergaminhos
Que queriam poder tecer esculturas

A felicidade é o mal da política
Tentando livrar da angustia o animal
Cotidianamente assim exercita
A puta e a moral dos que passam mal