12 de dez. de 2020

Ando, pois me dei pernas;
Voo, mas só em minhas penas;
Deito nas gravidades, pois pensando grave, eternas;
e engravido papéis com sêmen e insolúveis poemas .

18 de nov. de 2020

1.

Um tanto sociólogo,

Por pouco biólogo;

Plenamente poeta.


2.

O mister do escritor é a sintaxe

O mister do poeta é sinestesia

Nem todo poema é sinestésico

E nem todo artífice faz poesia.


3.

“A política é a arte de escolher inimigos!”

Disse-me uma vez um amigo meu.

A poesia é a arte de encolher artigos; e

Isto ninguém me disse: isso digo eu.


4.

Durma como a gente

E acorde com os seus.

Viva como um poeta

E morra sem um deus.


20 de out. de 2020

 

Nosso caso é um artigo,

Um paraíso indefinido.

Não me largas, nem te fico;

Nosso ato é um infinito.


Nossos corpos são antigos,

Como o céu dentro do mar.

Em mim mergulhas e eu te digo:

Sempre vamos nos tocar.

29 de ago. de 2020

 

Viver é ganhar tempo

Viver é buscar espaço

Tempo ocupa lugar no espaço

Viver é estar ocupado

Espaço ocupa lugar no tempo

Viver é estar por dentro

Dentro do espaço – utópico

Dentro do tempo – ucrônico

Viver é matéria que corre

É massa que escorre

É corpo que derrete

É objeto que reflete

E energia

Morrer é muito trabalhoso

Mas morremos todo dia.

 

As cartilagens são vidros gelatinosos

Os ossos são de madeira mineralizada

Dentes são pequenos cristais fósseis

E tod’alma extraída da carne a fórceps

Deve ser devidamente mastigada...

9 de ago. de 2020

 Para Pádua, por ocasião de seu livro: Menos.

Um bom prefácio é curto e belo,

Como um Haikai bem sucedido.

Um prefácio bom é um paralelo

Entre um autor e o seu livro.


Um mau prefácio é falso e triste,

Como um currículo da vil vaidade.

Tal o tolo que com o dedo em riste

Verborrage “verdades” sem validade.


Por isso digo, leitor amigo,

Que esse livro que tens contigo

É andorinha e assalto, é asfalto e sertão.


Ele traz pegadas da ponte pra lua;

Ele mija um retrato na maré nua;

Ele pesca nas nuvens o sol do alazão.

26 de jun. de 2020




Para ser livre:
Sê amigo,
Sê junto ou só,
Justo ou maldito.
Página e capítulo;
Para ser livro.

6 de jun. de 2020


Um velho arrogante
Peida seus conhecimentos gerais
Enquanto lê as páginas de um jornal.
Posso ver como ele é burro
(mesmo que o termo não sirva…).
Virando as folhas,
Virando as folhas,
Virando as folhas
Como se fossem a verdade.
E tão compenetrado fica nelas que sua burrice se sobressalta.
Coça o peito como um macaco vestido,
Olha as horas num relógio grande e digital,
Ajeita os óculos mas continua inerte mentalmente;
A mão em cima do papel,
Peluda como o início dos homens – de outras eras...

Aí, sisudo como um talão de cheques,
Ele me disse: Você é estranho!

19 de mai. de 2020



O açúcar foi a cocaína
    do século XVII...

A cocaína era ácida
    no amargo século XX...

A cloroquina é o sal
    da "nova" medicina;

E entre a História e a Química,
    é umami a política.

3 de mai. de 2020


A Vitória é filha da ambição,
Mas a Vontade nunca é saciada.
A esperança é a última que morde
E ela já me deu uma dentada.

Para Vitória estendi a minha mão,
Eu já de pé e ela’inda deitada.
Esperei pois o esperar não morre,
Que a paciência velha está sentada.

Na Vitória depositei uma canção,
Com esses versos fiz a sua estrada,
Nas curvas dela escrevi um mote:
Ao me encontrar esteja preparada.

12 de abr. de 2020




O tédio, o sono,
O Ego e o sonho
Dominam meu passatempo:
Os movimentos rápidos dos olhos,
Em minhas Sombras, postas como corvos,
Que em meu umbral repousam os seus ovos,
E me lançam ao bojo de meu incompleto esquecimento.

Pois há incompletude em meu inconsciente...
E há arquétipos demoníacos, frutos da minha mente,
Que se projetam e se negam, orgíacos, mutuamente;
Onde o Superego se revela Ser inconsistente:
E fútil e frágil
E paralítico
E Ente.


31 de mar. de 2020


...Às vezes,
tenho uma sensação engraçada
dentro da minha lataria mental,
às vezes…

Nessas vezes,
sinto um misto de palco e de talco,
um Gil artista e um tímido Fábio,
factual…

É meio como quem tem um filho
ou uma filha
que já tem uma filha
ou um filho
e essa criatura compartilha o seu gene
de uma vez por todas e de todas
as formas possíveis.

Então você multiplica
o cálculo de toda essa vida
e conta com tudo em reverbes;

mas ao invés de temer essa sorte,
você dorme sabendo que a morte,
em você, perdeu seus reveses.

23 de fev. de 2020


Ela discursava:
Era antes,
Agora não era mais.
Veja, perceba, note, repare:
Ela;
E não era mais.
Antigamente era,
Mas atualmente não era, mas...
Era e não era mais!
E não era e era, mas depois era e não-era e sempre/nunca era, néra?

Na época demorava uma Era,
Mas Era é outro tipo de era;
Que não era mais...

20 de fev. de 2020



Tenho uma satisfação quase eterna,
Feito pedra;

E uma empáfia efêmera e astuta,
Como fruta;

Guardo na boca água em textura,
Tal gordura;

Contudo cuspo saliva-ptialina,
não dentina;


24 de jan. de 2020


A civilização não é nada.
É uma farsa o processo civilizatório.
Não importa a cor da gravata,
És somente bicho em teu escritório.

A humanidade não existe,
Nem existem seres humanos.
Livros existem e esse escrito vive,
Mas morrerá como todo engano.

Não tenho pena de ninguém,
Nem de mim mesmo…
Sigo a esmo...

Sei que o tempo é o pior dos males
E o maior dos remédios!
Tenho tédios.

20 de jan. de 2020

Cachos!
Cabelos!
Matos!
Mataria pelos teus cachos
E nos pêlos dos teus matos
Com teus cabelos em meus braços
Eu seria um laço
E seria lábio.
O lascivo salivante e sábio...
Pois também queria que tivesses penas:
Coloridas, plumosas e bem pequenas;
Assim serias meu dinossauro.