12 de dez. de 2019


Faço a mala, refaço, desfaço
Disfarço que vou viajar
Fecho os olhos e dou alguns passos
Tropeço e despenco no ar

Peço um gim e a tônica amarga
É função da quinina amargar
O melhor da viagem é a mala
Que carrego comigo pro bar

Essa mala, senhores, não pesa
Mas a mala me tira um pesar
São pesares de uma vida poeta
Abre-me os olhos e me faz flutuar

19 de out. de 2019

Pra Jalu

A culpa Moral,
puramente Moral,
é quase sempre uma alteridade demente
e socialmente escravizante.

A culpa Intelectual,
analítica e pragmática,
é sempre um pequeno mal a si mesmo.
Esta deve ser acariciada dentro das fronteiras psicológicas de cada um:
Esta não tem alteridade; esta é individualizante.

(Aquela deve ser superada pela melhor liberdade, se possível coletiva.)

A culpa Moral vem de um falso altruísmo
e a Intelectual do egoísmo nosso de cada dia...

14 de out. de 2019


Leãozinha cor-de-cobre...
Carne ousada, alma enorme,
Tanto ruge quanto dorme;
Em teu pelo a juba é nobre.

O teu cheiro é como zimbro.
Tuas unhas são de zinco.
És qual ponte de dourado
Na travessia do meu charco…

Leãozinha cor-de-loira:
Seja louca! Nunca Tola!
Seja menina e mulher.

Tua alegria me cativa.
Tua liberdade me ativa.
Faça sempre o que quiser.

3 de set. de 2019

Passei pela vida
cheio de apegos a fantásticas irrealidades...
Agora vivo de insultos.
No entanto, amo ser insultado;
mesmo que os insultantes não percebam
o pequeno mal que se fazem.

31 de jul. de 2019

Meu país é uma senzala continental.
Meu país é um imenso navio negreiro.
A polícia mestiça cuida dos pretos da capital;
E, mestiços hispânicos, dos pobres do povoeiro.


Meu país é uma capitania conceitual,
Onde se mata índio por qualquer dinheiro.
Por toda essa terra, espremidos pelo Capital,
Regamos o suco e o chorume do brasileiro.

Meu país é uma gigante Universal:
Igreja nefasta sem Deus no cumeeiro;
Pátria que reza pelas grades do prisional
Sistema alienante de fé no pastoreiro.

Meu país é uma vergonha internacional.
É lugar atrasado no mundo inteiro.
Aqui a justiça nunca foi imparcial
E a barbárie da elite vem em primeiro.

18 de jul. de 2019

I.
Ah, que alegria,
Potente seria,
Ser causa de si…

II.
Ninguém é o que (se) é
Até o fim dos (seus) dias.

III.
Filhotes nascem,
Infantes crescem,
Humanos adultos não amadurecem
E alguns deles nunca vão envelhecer.

IV.
Minha raça é minha prole ao nascer;
Meu dissabor é não ter fim essa quimera;

V.
O irascível no SONHO é a razão do SONO.

VI.
Todo desejo de consumo
Suplanta uma ação de pensar.

VII.
Toda relação de amor
Ao trabalho
É uma fetichização masoquista.

VIII.
Amor é fantasia daquilo que nunca é nosso!
Desejo é a anarquia daquilo que sempre será!

IX.
Ele saiu pra comprar cigarros
E ela não voltou nunca mais…

X.
Escrevo tolices todas as noites
Só pra de manhã
Perceber o todo
Que sou.

18 de jun. de 2019


1- Tenho coragem de confessar uma covardia
e não tenho medo do canalha inconfessável.

2- Talvez eu seja só um humanista 
que detesta a humanidade.

3- Entre a tolice da vaidade e a cegueira da inveja,
entrego-me com orgulho à soberba da solidão.

9 de mai. de 2019

Admiro muito o Faz-tudo:
Aquele tipo de sujeito útil,
que com o mínimo de conhecimento em várias áreas,
resolve diversos entraves práticos
da vida cotidiana e do mundo do trabalho.

Admiro, também, o Faz-nada:
O tipo de sujeito inútil,
não muito dado ao trabalho e às coisas utilitárias,
mas que mergulha nos entraves metafísicos
dos fenômenos simbólicos do mundo-da-vida.

5 de abr. de 2019


Não preciso de um grande emprego
Com um vasto salário
E muitas responsabilidades.

Nem os quero…

Em mim não servem,
A mim não vestem,
Só me angustiam.

Que mais preciso eu além de meus livros,
Uns poucos amigos
E alguns goles?
Além do passeio da tarde com o cão amado?
Além do sono justo com a mente limpa?

Uma carteira de cigarros,
Uma garrafa de café,
Papel, caneta e minha letra…

Todo resto é quimera.

Aprender a lidar com a vida
É tarefa pra uma vida inteira;
Mas mesmo sabendo disso,
Espero ficar sábio
(ou menos tolo!)
Antes da senilidade chegar.

7 de mar. de 2019

Se o fato preciso fosse

Assim seriam os fatos

O fato que aqui me trouxe

De fato seria exato

Não sei onde o fato foi

O fato pra mim perdeu

Desconheço os fatos do boi

Dos fatos prefiro os meus.

28 de fev. de 2019

Detesto fazer favores
e às vezes faço.
Detesto emprestar livros
e ainda empresto.
Detesto varrer a casa
e nunca varro.
Em quase tudo que falo
sou bem honesto.

Prefiro favores não pedidos: e outros perdidos;
Prefiro os livros em meu quarto: se não enfarto;
Prefiro o chão cheio de areia: não me aperreia;
Prefiro não ter que me repetir: pra não mentir;

20 de fev. de 2019

Teu parasitismo sexual não mais convence.
Livrei-me de tuas pinças,
Tuas quelíceras,
Teus pedipalpos…


Essa nossa simbiose não se compensa.
A viscosidade, dos nossos fluidos,
Já não condensa.


Os aguilhões contentes,
Brilhosos e cortejantes,
Que em nossos corpos quentes
Se fincam tão gotejantes,


São rijos e são ardentes,
Mas chegam tão murmurantes,
Que só ao partirem sentes
A ausência dos meliantes.


O escoamento laminar de nossas taras,
Quebram com a tesão superficial.
Livrei-me de tuas presas,
De tuas pressas,
De tuas patas…


...e ainda sou teu hospedeiro
Natural.

10 de jan. de 2019

O direito é uma ficção
Assim como toda religião
Acreditar nos códigos do vade mecum 
É como crer nos mitos da bíblia e do corão
Juízes, promotores e advogados
São como padres, pastores e ordenados
Que manipulam palavras antigas e letras mortas
Ao bel prazer de suas pombas tortas.