31 de dez. de 2012


O poeta quando é tido como vagabundo
Quer dizer que tem presença de espírito
Pois depois se fica velho e moribundo
Seus poemas são citados pelo mundo
E estudados por intelectuais fatídicos

Mas se o poeta como boêmio não é visto
Significa que perdeu toda a magia
As palavras foram escritas sem encanto
A beleza ficou presa em algum canto
E os fatídicos não estudam sua poesia

28 de dez. de 2012



Considero-me um sujeito
Sem muitas ou grandes ambições
E de pouco instinto competitivo...

Quem sabe,
O que dentro de uma visão evolutiva/biológica,
Possa parecer uma falha no âmbito da sobrevivência
E da perseveração da espécie;
Talvez, no plano teológico e teleológico
Seja pleno avanço espiritual...

8 de dez. de 2012



Gostar de meter é viver entre abismos;
Mesmo seguro é preciso de pinos.

Olhar outros olhos é perder a visão;
Ser filho da fome lambendo sabão.

Entrar no seu jogo é A putaria;
No entanto te leio como uma poesia.

29 de nov. de 2012


Para Galileu Galilei.

No meu córtex fervilham informações
E em minha colmeia borbulha o nectar
Eterna luta entre conteúdo e estética
Onde as causas se misturam as razões

E assim arrebentou-se toda ética
Em ecos retumbantes de audições
De egos relutantes em tradições
Mergulhei a raiva apagando a métrica

Emergem, então, pulsões vividas
Transformando toda vida em caos
Metamorfoseando o caos em cosmos

E nesse pensar de estrelas garridas
Sinto pena dos pequeninos maus
Como da ignorância dos grandes tolos

(Soneto fabricado em parceria com Maika Rosseau.)

4 de nov. de 2012


Eu me agarrava a ti
E era como se estivesse abraçado a um cadáver.

Tu te agarravas a mim
E era como se eu fosse tua bagagem.

Eu te pedia atenção
E você se perdia na estiagem.

Pensávamos sempre em fugir
E nunca encontrávamos paragem.

Eu não sabia mentir
E você já não tinha coragem.

Fiz uma música então
E teus olhos eram como duas margens.

Eu me perdi na sessão
E você se perdeu nas imagens.

19 de out. de 2012


Para Diógenes de Sínope.

Agora sou vivo
Vivo em mim mesmo
E morto na alteridade
Morto-vivo como uma cama de ex
De outras tantas vivências
De tantos outros alteres

Alterado estou muitos
E muitos agora são únicos
Unos repletos de mim
Nas diversas unidades
Em um fragmento
De fragmentos sem peso

Leve e auto-suficiente, agora, posso ser o mesmo.

19 de set. de 2012




Beijos, saliva, suor e cor
Cores multicores, coloridíssimas
Hálito quente e sabor
Mares de vidas quentíssimas

Fertilidade e fé fecundante
O choque do orgasmo é um nó
Milhões de seres andantes
À procura de um ser só...

22 de ago. de 2012



Adeus a deus e não diga sim
O meu lado de cá está doendo
As nuvens carregadas de senhores
E a terra cheia de dividendos

Na cidade tudo se encontra
No centro dela ninguém se reconhece
Mas à beira-mar às pessoas são felizes

(Um desfile de cachorros não é loucura 
/ há loucura em ver humanos desfilar)
Nos ônibus lotados brotam poesias quentes
Os outros por lá são não-contentes
As nuvens soltam rajadas lógicas
E a terra da ciência treme sem razão

Inchadas as pernas da moça ¾ quer deitar
Entre abertas ficam a saia e as cortinas
Provocando sempre dor de mente
(Dor-de-dente) (Dor demente)
Sem as calças os homens não se doam
Com as calças os homens não são gente

Nossos primos distantes são não símios
Nossos símios distantes são não macacos
Ancestrais atrás do cais alcoolizados
Procurando alguma fuga n’algum navio
Sempre bem acompanhados e discretos
Que à beira-mar nem todos são concretos

18 de jul. de 2012

Para Piaf.

Amizades e relações precisam de telhas,
Telhados de barro e telhados de vidros.
Precisam de eiras, de beiras,
Não de tribeiras.
Nada que sobre ou nos esnobe.

Relações e amizades carecem de persianas.
Cortinas floridas ou de renda,
e dessas treliças
Pelas quais vemos sem ser vistos.
Nada de janelas travadas impossíveis de pular.

Por assim,
Sorvo e sopro nossa missão:
Atirando pedras em nossos telhados;
Dormindo embaixo de nossos beirais;
E atravessando as janelas do peito
Para se enrolar nas gelosias do coração.

21 de jun. de 2012


Nesta vida de monstro desregrado
Quebrei perna, quebrei braço
Quebrei a cara, quebrei os dentes.

E mesmo depois de remendado
Sempre me sobrou meu coração latente.

Pungente coração que com cuidado
Se aproxima do espaço
Do teu ventre.

25 de abr. de 2012


 Para Guerra Junqueiro

Na última prece que fiz
Tentando acudir minha alma
Aliviar meu tormento matriz
Deixar minha passagem mais calma


Ouvi a voz de um profeta
Falando junto a mim mesmo
Profetizou minha vida poeta
Cantou com meu nome a esmo


Disse: nem preste muita atenção
Aqui, o que canto, já sabes
Ninguém ouvirá tua oração
Destino, tu mesmo o fazes


(e continuou a voz do tal santo...)


Ah, Henrique Viana Brandão,
Começo esta tua canção
Aquecendo o frio do teu peito.
De que te serve, das fêmeas, o leito?
Se do teu dique, Henrique vão,
Já não transborda nem vinho, nem pão?
Relembra que tu és poeta!
Dinheiro não é tua meta!
Moleque Viana Brandão...


Replique, Henrique Viana,
A quem tu pensas que engana?
Não vês que não tendes trabalho
Porque tu em tu mesmo é atrapalho?
Tua cabeça é um turbilhão!
Tua arte é como um facão
Que corta a vazão da certeza!
Teu antenome é nobreza,
Cacique Viana Brandão...


Brandão Viana Henrique,
Por mais que você multiplique
A chama do amor pelo mundo,
Às vezes haverá o absurdo
De seres tratado vilão.
Suplique, não enrique o ladrão,
Pois em tua jornada cigana
Amaste alguém que não ama;
Coração Viana Brandão...


(e continuava cantando o tal santo-profeta...)


Depois disso adormeci
Com imagens em meus sonhos
Da vidinha que vivi
E das vidas que disponho.

11 de abr. de 2012

Todos os pênis já nasceram mortos;
e os poemas também.
Todas as vulvas já foram feitas;
e as poesias: me dêem.

[Não podemos ser um só,
nem todos ao mesmo tempo.
Mas podemos ser alguns de nós, por momentos.]

...A mulher sem dramas é a filosofia sem dentes!
...O homem sem damas é um sujeito decente?

Chatear uma figura repugnada de ti,
pode (e nem sempre deve)
preencher-te com felizes afogamentos sentimentais.

{Amar alguém é querer,
sincera e silenciosamente,
que esse outro-alguém morra...}

Sei só da vida parindo meu caminhar em ruas contínuas como tripas e nas crianças bêbadas como moças.

14 de mar. de 2012

JÁ FUI BOA INFLUÊNCIA EM TUA VIDA

TE FAZENDO SER AO MENOS ANSIOSA

MOSTREI MINHA INDULGÊNCIA TODA PROSA

E TU SEMPRE DE GUARDA, NÃO RENDIDA

DE REPENTE NÃO ACHAMOS MAIS SAÍDA

ME DISSESTE: NÃO CABÍAMOS NESTE TEMPO

PELEJEI PARA ESTENDER ESSE MOMENTO

VI SANGRANDO TUA ETERNA COMOÇÃO

PERCEBI NOSSO MUNDO ALÍ NO CHÃO

QUASE MORTO, ESPERANDO UM PASSAMENTO.

7 de mar. de 2012

Por enquanto, enquanto durmo pelo chão
Parece vontade meu mundo
Não mais representação!

Vez em quando, quando torno do além-mundo
Tudo me parece em vão
E nada mais absurdo!

Também se creio que meu tempo arde
O saber de um tal Cronos me invade
Deixando-me como besta arredia.
Transformando-me em coisa vadia.

Percebi que precisava de um mote
Pra entender o porquê de minha sorte:
Que eu era menos, mas mais valia...
Que eu era menos demais, mas valia...

9 de fev. de 2012

Espelho I

Viajo em desenhos técnicos
E em filosofias quânticas.
Pensava eu, que deveria medir meus atos e descasos
Com uma precisão milionésima.
Gosto de astronomia e de futebol,
E sempre achei mais fácil bater em gol
Do que em meus amigos.
Queria entender mais de matemática
E menos de poesia,
Talvez assim tivesse algum dinheiro e fosse mais amado.
Quanto à música...?
Ah, essa seria como deve,
Sem dever nada a ninguém.

Espelho II

Viajo em desenhos abstratos
E em física mecânica.
Pensava eu, que deveria medir meus passos e tratados
Com uma precisão milimétrica.
Gosto de gastronomia e de kung fu,
E sempre achei mais fácil bater num saco
Do que em meus problemas.
Queria entender mais de metafísica
E menos de ser besta,
Talvez assim tivesse algum conceito e fosse mais ligado.
Quanto à música...?
Ah, essa seria como pode,
Sem poder nada a ninguém.

...

30 de jan. de 2012

É irritante quando criamos algum sentimento angustiante
de ojeriza em torno de um ambiente específico.

Principalmente quando sabemos
e cremos que antes, ali, adorávamos habitar.

Sei que é suportável a sensação de embrulho estomacal,
mas sei também que é mais saudável não tê-la consigo.

O pior de tudo, numa intriga como esta,
não é ficar de mal do lugar,
é que nunca se sabe bem como fazer as pazes.

6 de jan. de 2012

A poesia morre e fede!
Então feda:
Maria...

Maria fede e não morre...
Então morra:
Poesia!

A poesia fede e morre...
Então morro:
Maria!

Maria morre e não fede!
Então fêdo:
Poesia...