26 de mai. de 2021

 

A boca é uma pulsão de vida.

O ânus é uma pulsão de morte.

Somos um tubo digestivo que pensa,

Em duas frentes, à própria sorte.


Tal qual insignificante deus que caga,

Tudo que é divino em nós: defeca;

Tudo que é defectível em nós: baba;

E transborda desonestidade no "milagre" que nos cerca.


Toda boca tem uma sucção de vida.

Todo ânus tem uma explosão de morte.

O intestino é uma jiboia embevecida,

Que tão sábia ensinou Eva a comer seu dote.


Todos temos na goela mentira e paixão.

Todos temos no estômago alívio e pavor.

Alguns tem a bunda de rabo de pavão,

Outros tem a língua de filme de terror.


Em todo beiço que treme há uma neurose;

Em muitos dentes, uma covardia;

Em todo cu que lateja há um caráter de psicose,

Que para si mesmo prega todo dia.


O ânus é como uma criança que envelhece.

A boca é como um adulto de partida.

A boca também a morte enaltece,

Assim como o ânus, defeca à vida.