15 de dez. de 2009

As cicatrizes demoram a sair do meu corpo
Não estou dizendo isso para parecer demasiado sofrido ou soturno
O fato é que
As cicatrizes demoram a deixar o meu corpo
E há algumas que nunca se vão
Como coisas da alma

Por isso
Parei de datar minhas cicatrizes
Assim como parei de datar
Meus poemas e desamores

Parei porque umas e outros somem
E a data já não é problema

Parei porque umas cicatrizes
E outros poemas
Ficam
E a data me apoquenta

23 de nov. de 2009

Bati o carro, mas continuo bem vivo
A adrenalina do momento espantou-me o sono
Bater o veículo me deixou um tanto altivo
Sem decompor meus átomos de carbono

A colisão me tornou bem mais vivo
Sem mortos-vivos para me tirar o sono
Amo viver (e assim morrer) hiperativo
E o imperativo categórico, abandono

Vou atravessar as avenidas dessa vida
Extinguindo o medíocre jeito de viver
Vou dirigir minha carruagem sem medida
Pois sem medidas eu vivi sem me esconder

13 de nov. de 2009

Para São Paulo

Parei na esquina da angústia
Na frente do Banco do Brasil
Não sei se o que sentia era Augusta
Ou se meu peito estava vazio...

25 de out. de 2009

***

Nem isso me obriga
Nem nada me permite
Que eu sempre sexo faça
Ou que a frialdade visite

Sendo um cachorro promíscuo
Sendo leal como um cão
É-me sério ser omisso
Faz-me rir a gratidão

Mas não digo ser ingrato
Nem vizinho da má fé
Dos opostos o contrário
Sou sincero a quem me é

7 de out. de 2009

Para Christiane Quaresma

Belezas de brancura firme
Curvas de circular sedução
Sexo de orgasmo farto
Fisiologia hormonal de caminhão

Pênis e vulva bem juntos
Máquina lubrificada a mão
Entrelaçados, como se faz ao junco,
Seguindo o ritmo da respiração

Com os corpos de suor untados
Fizemos tudo, até sentados
Brindamos à perversão sadia

Unindo as línguas em nossas bocas
Meu pau cospe em tuas coxas
E te transformas em minha vadia

22 de set. de 2009

para Schopenhauer
O desejo, sim, é infinito.
Ele não cessa de vez.
Estanca! Mas pega de novo.
Para! Mas volta a rodar.
Still, but return to play.
O desejo é ilusão que nunca acaba…
Game over? Ever and never finish!
Para Maíra Egito

Não tenho saúde emocional pra conversar contigo ultimamente!

Bem sabes por quê...
Não consigo concatenar minhas “geniais” idéias;
Não consigo dormir direito nem esquerdo;
Não consigo ler Nietzsche como quando tentava ler;
Não consigo atender (teus-meus) telefonemas;
Só tenho ouvido algumas músicas de um velho amigo olindense.
E às vezes sinto vontade de chorar no vazio.
Mas não tenho raiva,
Não tenho medo,
Não tenho nenhum...
Tenho um frio e uma sede que penso que nunca vão passar.
(Pra quem sempre mereceu uma poesia de qualidade,
Pelo menos conseguiu uma sincera.)

7 de set. de 2009

A mulher que eu amava
Se revelou ser a mulher que eu temia que fosse
Desses tipos de mulheres que todos os homens conhecem bem
Conhecem porque já estiveram com uma — Já tocaram realmente
(se não na mesma cama, no mesmo ambiente)

A mulher que eu amava
Revelou-me desejos que me cortaram os tímpanos
Esses tipos de segredos que sabemos mas não queremos ouvir
Sabemos porque já fizemos igual — Já idiotizamos suficiente
(se não em outra cama, em outro ambiente)

11 de jul. de 2009

Não consigo me concentrar em nada:
Feito suco.
Nem em coisa alguma:
Feito água.
Meu plug não encontra tomada!
Arrumo o quarto a sala e a cozinha,
Tiro cabelos do ralo,
Tiro a gordura da pia.
Mas os ralos de minha ciência estão perdidos.
Mas o encanamento de minha vida continua entupido.
É como se eu vivesse num limbo:
Meio-sonho-meio-pesadelo-meio-sonho de novo...
Um pouco de tédio;
As tais obrigações,
(que são bem poucas no momento).
Alguma felicidade entorpecida:
Meio-êxtase-meio-arrependimento!
E o cabelo no ralo...
E a gordura na pia,
É a mesma em minhas ventas e em minhas goelas.
Não cheiro nem engulo mais nada (só o óbvio).
Já me disseram que estou sendo desperdiçado,
Depois disso,
Comecei a me sentir um desperdício.

19 de mai. de 2009

Ah, em mim, a morte bateu sem pena
Não sou santo nem serei santificado
Em meu peito o amor está crucificado
Agora sei o que é ser traído por um poema

Antes fosse traído por um tema
Que de temas eu me livro muito rápido
Mas um poema, para o poeta, é um rapto
E a alma sonha em livrar-se e ele teima

Minha dor carregarei até esvair-se
A traição não é pior do que trair-se
E a velha morte, tarda, atrasa, mas não falha

A traição não será mais o meu tema
E fatalmente choverá outro poema
De águas lindas e de biqueiras em minha calha

9 de abr. de 2009

A vontade de viver se esvaiu de mim...

Eu sou um cadáver que vaga.

Anda, fala, trepa, pensa!

Mas a vontade de viver se esvaiu de mim!

Penso! E isso me maltrata infinitamente.

Não acredito mais em nada, só no meu medo.

Penso... E isso me atormenta e assombra profundamente.

Só acredito em mim e em meus fantasmas.

Creio ser um cadáver com fantasmas que andam, falam, trepam, pensam...

São meus e fazem por mim.

Sou eu, mas não adianta.

Toda vontade de viver se esvaiu de mim.

A única coisa que me alegra interiormente é escrever.

Não escrevo uma linha se quer que não seja verdade.

Que não seja um desabafo.

Que não seja desafio ou desespero.

Que não seja desejo e medo.

Nunca escrevi uma linha se quer que não tenha sido pecado ou amor.

Amei! E meus fantasmas amaram também!

São meus?

Sou eu?

Não adiantou.

Minha vontade de viver se esvaiu de mim!...

7 de mar. de 2009

Posso te dar um inferno sem purgatório
...e um paraíso sem céu
Posso te dar um mar sem ondas

...e uma praia sem céu
Posso te dar um carro sem combustível

...e um avião sem céu
Posso te dar um aquário sem peixes

...e uma ave sem céu
Posso te dar um quarto sem cama

...e um teto sem céu
Posso te dar um preservativo sem sementes

...e uma foda sem céu
Enfim, não posso te dar o que é seu.

3 de fev. de 2009

*
Tijolos de areias e pedras e algas constroem o meu corpo
Minha vida de ferro
E ferrugem
Foi corroída pela maresia do mar dos sentimentos
Os peixes desse mar
Alimentam-se dos tijolos do meu corpo
E eu para me proteger
(ou para fugir, não tenho certeza...)
Tenho feitos corais ao meu redor
Preciso desses corais para sobreviver no mar
Mas preciso desse mar
Preciso
Como quem precisa de água para matar a sede após o sexo
E preciso do meu corpo
Para alimentar os peixes e fazer sexo
Deitado em meus corais
Transar com o mar e com os peixes
Então minha vida de ferro se desmanchará
E farei parte dos peixes...
E farei parte do mar...
*

6 de jan. de 2009

*
Chega de falácias e perdões
Agora vejo a travessia mais distante
Não tenho moral, tenho solidões
Nenhuma dor pode ser paralisante

Chega de apegos as traições
Acima disso há um espírito cantante
Virtuoso em potência e evoluções
Pois a vontade é essência estimulante

Preciso meu caminho retomar
E o endereço que procuro é a ponte
Mas que não seja materialista nem ideal

Entre o eu e o além-eu contemplar
Que no ser e no não-ser existe a fonte
Para fundar meu conhecimento no irreal

*