25 de nov. de 2013



Sou feito de carne e insegurança
Tipos de células em camadas
Pulsão jocosa sem temperança
Agüentando, da vida, pancadas


Sou feito de risos e agonia
Músculos em ressonância
Carentes esperam a fatia
De minha augusta ânsia


Sou feito de som e mormaço
Ouvidos de óculos escuros
Não tenho na boca cabaço
Mas tenho meus dedos seguros

15 de out. de 2013

Com meus dedos molhados
Escrevo melhor;

E quando molho meu cérebro
Escrevo melhor.

Fazendo um molho apimentado,
Escrevo melhor.

Depois me estrepo e me largo
E escrevo melhor.

Às vezes até desmaio
Escrevendo melhor!

Em tudo que faço e me escrevo (de lado)
Eu sinto o melhor...

Mas não respeito sintaxe,
Nem mesóclise,
Nem semiótica;
E quem dirá que é pior?

5 de set. de 2013

Às vezes é como se a alma fosse contas a pagar.
Às vezes é como se o corpo fosse casa a se arrumar.
Toda angustia de finitude tem um começo.
Avizinhar-se de toda morte tem seu preço.

Volições são desejos amarrados aos nossos pés.
Vocações são mentiras que enforcam os infiéis.
Em qualquer Ser é possível se universalizar.
Enquanto o Ente atua como ator sem interpretar.

Não existe trabalho.
Não existe produção.
Tudo é ato falho.
Ao fim tudo é adaptação.

Não somos o Eu.
Nem somos o Outro.
O que era vivo viveu.
E o que já se foi era pouco.

9 de ago. de 2013


Sabe aqueles queijos caros,
Que de tão bons e refinados e estragados,
Fedem?

Sabe aquelas leituras diferentes,
Que de tão à frente e rebuscadas e estragadas,
Tardam?

Sabe aqueles amigos especiais,
Que de tão estranhos e imponderados e estragados,
Atraem?

Sabe aquelas coisas bem doidas,
Que de tão loucas e coisadas e meio estragadas,
Impulsionam?

Pronto,
O amor é isso!
É estragar e ser estragado ao mesmo tempo...


28 de jul. de 2013

Para minha Claríssima.

Chego sempre de manhã do plantão
Acordo-a entre beijos e fazemos amor
Preparo, depois, o café-com-leite e pão
Tudo dulcificado e com muito sabor.

Agora, devagar, enquanto ela se banha,
Abro um vinho e caio no sofá.
O menino acorda cheio de manha
Então o visto, pra na escola brincar.

Sigo tal rotina alegremente
Tenho outra cria, mas já é gente
Difícil é ter a casa só pra mim.

Quando fecho um olho cansado
Sinto o sonho de haver encontrado
Um paraíso ou meu canto num jardim.

12 de jun. de 2013

(Livremente inspirado na canção homônima de Zeca Viana.)

Sendo verdade que há sol em mim
Há também de haver alguma dor
Por tanto, se tal sol, queima-me
Sirvo minha carne à cor.

Corro no sol entre fotocélulas
Para ver de perto toda fotossíntese
E quando debato algumas querelas
É tudo tese, tudo síntese, tudo antítese.

A minha Natureza é biopolítica
Mas meu Estado não está na matéria
Há combustão em minha estilística
Assim como o sol, sou substância etérea.


21 de mai. de 2013



De manhã cedo calço minhas botas
E caminho por sobre o sol de minha solidão.
A toda hora penso
No quão seria mais prazeroso caminhar
Se meus pés não doessem tanto.
O estado reflexivo ativado pela dor dos meus pés
Em meu córtex cerebral
Faz lembrar que mereço tudo isto.
Prometo a mim mesmo que amanhã
Acordarei tarde da noite
Calçarei minhas botas
E caminharei por sobre a lua de minha solitude.
Queria também poder nadar
Em horários alternativos
Com um tal peixinho
Que tanto me completa
E que agora
Ficou um pouco distante de minha solidão e de minha solitude;
Mas não tenho nadadeiras:
Só essas velhas e confortáveis botinhas ortopédicas
Para diurnas ou noturnas caminhadas reflexivas.

8 de mai. de 2013

SAM


(Saudades, meu Doctor Pulga)

Brincava eu, tão absorto, em minha infância
Buscava germes, um larva migrans, adormecido
Queria espaço, dançavam astros, sentia ânsia
Na minha derme, o corpo externo, fez mais sentido

Sentia muito a tua falta e tua querência
Sabia eu que te amava e que eras meu
E a coceira, então me davas, era presença
Canídeo lindo, filho do lúpus, és androceu

E tua estrada que surgia em minha pele
De tatuagem blindou minha epiderme
Quase querendo atropelar a circulação

Sei que morreste atropelado e então te digo
Que teu destino foi meu maior castigo
E sinto imensa falta tua, querido Cão.

2 de abr. de 2013


Sempre que assisto aos Simpsons
penso se ainda posso encontrar uma Marge em minha vida;
que cuide, entenda, aceite e sobretudo ame, meu jeito Homer de ser.

14 de mar. de 2013


Para Hellen.

Amo-te, pequena mina tão rebelde
Porém pareces minar meu coração
Tal amor nunca cabe num só balde
Coube já, no bojo de minha mão...

Ganhei eu, uma menina tão açoita
Que afronta paciência quando quieta
Miudinha e marota pela moita
Bem na vida me complet’alma deserta!

Dos rebeldes nada sei o que dizer
Fui um deles, talvez possa explicar:
Sou artista e uma artista ais de ser
Só espero que não deixes de me amar.

22 de fev. de 2013



Um carnaval de pessoas passou por aqui:
Brindaram meu corpo.
Blindaram meu pênis.
Fumaram minh’alma.
Filmaram meus dentes.

Uma horda de meninas bem resolvidas:
Éguas no cio
Do espaço do meu quarto...
Águas do rio
Do tempo no meu braço...

Tenho (e vejo) as digitais por toda casa:
Mesmo lavando as paredes;
Trocando o lençol manchado;
E agora dormindo em redes
Ou pelo chão imaculado;

Sei que preciso de toda longitude:
No sono fico distante.
O sonho é reforço interno.
Desperto sou caminhante,
Caminho pra longe do inferno.

Que um madrigal de gente venha me consolar:
Tão boba quanto correta,
Sonsa e desregrada
Na medida mais certa;
E sem tanta ruindade que é pra não azedar!


1 de fev. de 2013


Novamente encontro com a danada
Dessa vez doeu mais e mais doeu
Reencontro minha vida tão ingrata
Que a tragédia em mim é coisa inata
No meu mancado esse fardo sucedeu

A idade bem supera os acidentes
A cidade mal-me-quer ao seu sabor
Já não sinto nem na boca os meus dentes
Ao meu leito essas moscas como crentes
Do meu hálito vem aspirar todo fedor

Um relógio quebrado é meu destino
Mancando marca o tempo a parar
Espero ancorar este malsino
Espero não ter mais que esperar

7 de jan. de 2013



De quando em quando penso que minha literatura vai me projetar no mundo!
Penso mais nela do que em minhas composições musicais...
Gosto de música e gosto de poesias e gosto de contos; isso já me basta.

De quando em vez imagino que minha capacidade intelectual é realmente fascinante.
Mas percebo que mais legal ainda é meu código genético.
Gosto de fêmeas e de futebol e de alguns amigos genuínos...

De quando, em horas de angustia, sinto como se tudo fosse um pedaço de pano...
E tento costurar os retalhos com meu ego que é como uma agulha!
Gosto de mim e de ser pateta e de quase todos que erradamente me elogiam;