10 de abr. de 2014




A possibilidade de ser repleto
É como uma jarra de barro que nunca enche.
É saco de quem caminha descalço na terra;
E de quem não quer que a terra vire lama.
Perder a calma como um bicho,
Tendo tal bicho nas roupas.
É deitar a cabeça sob um signo,
Sabendo das mãos insignificadas.
Correr como caneta
De juiz ou advogado,
É chaleirar o julgo
Da própria morte em vão...

Não há choro, nem permissão.
Não há de haver nada; sem unhas, sem solução.

Esvaziado de mim e do todo,
Com minha cabeça dentro do forno
De microondas que me fritam as poucas idéias.
Crianças brincando de mortas,
E nós, de formigas tortas,
No saneamento escroto da rua;
A chuva escorre no ralo.
A pomba só dorme no talo

Folhoso e quente sem porta.
Rapazes em pés-de-manga,
Chupando a vida alheia:
Ajuízam mergulhos sem fim.

Não há coro, segunda voz, ou tamborim:
Mesmo que houvesse mais pele;
Não há ossos, nem dentes, nem marfim!