28 de abr. de 2010


Para Gabrilha

Talvez não seja uma boa analogia:
Não tocaria você
como quem toca uma agenda metódica de encontros burocráticos.
Tocaria sim,
como quem toca o último cigarro do dia antes de desabar em sono.

Não tocaria você
em cima de altos tamancos e belos adornos!
(como uma inútil taça rodeada de medalhas)
Assim toco cédulas frias em minha carteira!
Prefiro teus pés descalços sem desconforto,
teu contorno...

[As camas e as cadeiras são boas,
mas não submissas.
As redes e os sofás nos abraçam.]

E uma estante com pesados livros plenos de pesadelos,
com efeito, toco.
- Como roupas sujas e engomadas...
- Como palavras trancafiadas num poema...
- Como bailar embriagado numa noite sem orgasmos...
- Como o sorriso disléxico das pequenas coisas que nos odeiam...

Mas nem de longe tocaria neles se deles não fossem feitos alguns dos nossos maiores desejos.

Com objetos que toco
pretender explicar o que sinto
como objetos que toco?

Como encher um copo
e querê-lo vazio!
Como esvaziar a alma
e sonhá-la repleta!

Toco as paredes frias do meu quarto e do meu corpo.
Ajusto as horas no rádio-relógio
e tua falta silenciosa
toca em mim,
sonoramente,
de manhã,
às 10:15
em pon
to.