O Não-Ser não é impossível;
Há Não-Ser, não há?
Talvez o Ser seja plausível;
E o Tao também, tá?
"A linguagem é a morada do Ser..." (Heidegger)
Somos insetos hedonistas
Exoesqueletos vazios
Artrópodes navegantes
Cujas patas navios.
Somos cupins no amor
E abelhas na bebedeira
Formigas sonhando cigarras
De segunda a sexta-feira.
Somos moluscos psicóticos
Equinodermos espinhentos
Às vezes míticos
Às vezes trágicos
Cnidários automáticos
Crustáceos mitômanos
Do profundo Egeu dos clássicos
Ao mais raso do mar dos Bálticos.
Somos aracnídeos de ternura
E platelmintos revoltantes
Saborosos e suculentos
Repulsivos e violentos
Dialéticos e cativantes.
A boca é uma pulsão de vida.
O ânus é uma pulsão de morte.
Somos um tubo digestivo que pensa,
Em duas frentes, à própria sorte.
Tal qual insignificante deus que caga,
Tudo que é divino em nós: defeca;
Tudo que é defectível em nós: baba;
E transborda desonestidade no "milagre" que nos cerca.
Toda boca tem uma sucção de vida.
Todo ânus tem uma explosão de morte.
O intestino é uma jiboia embevecida,
Que tão sábia ensinou Eva a comer seu dote.
Todos temos na goela mentira e paixão.
Todos temos no estômago alívio e pavor.
Alguns tem a bunda de rabo de pavão,
Outros tem a língua de filme de terror.
Em todo beiço que treme há uma neurose;
Em muitos dentes, uma covardia;
Em todo cu que lateja há um caráter de psicose,
Que para si mesmo prega todo dia.
O ânus é como uma criança que envelhece.
A boca é como um adulto de partida.
A boca também a morte enaltece,
Assim como o ânus, defeca à vida.
Ao menos uma vez na vida
Eu quereria vencer trapaceando
Mentindo, fingindo, iludindo, enganando.
Sovando as massas
Como um padeiro fascista.
Burlando as regras
Como os contraceptivos.
Interpretando o jogo
Como dono do tabuleiro.
E sempre saindo ileso, incólume, inalterado.
Usar argumentos pífios e inglórios,
Embusteiros e falaciosos,
E ainda assim ser aplaudido de pé pela audiência.
Negar a lógica, a razão, o bom senso, a ciência;
Pregar absurdos infames,
Vergonhas pestilentas,
E ser desejado pelo grau de (minha) virulência.
Corromper qualquer tolerância,
Dinamitar toda poesia,
Executar inimigos em plena luz do dia.
Ser seguido, curtido, comentado,
Compartilhado…
Mas atuar
Dá trabalho,
É por demais
Exaustivo,
E eu dei de ser preguiçoso,
Pra poder ser
Pensativo.
(para DANI ELA, irmã amada.)
Mergulho na cama
Isso não é um crime
O sono é uma dama
E tão linda me tinge
Da tinta do sonho
Tanta cor me atinge
E aflige, eu suponho,
Nossa face de Esfinge
Mais do que dama linda
Sempre serás minha amiga
E com tinta e cor minha irmã
O sonho só vai onde alcança
Nosso sono é justo e não cansa
Dormiremos bem mais amanhã.
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