17 de nov. de 2016


Perdi tantas sandálias na infância
Quanto amores na puberdade.
Perdi brinquedos e bicicletas,
Amigos e automóveis.

(Mas continuo andando,
Não perdi as pernas,
Ainda bem.)

Perdi livros dados
E emprestados.
Livros que já li e nunca lidos,
E discos e discotecas inteiras.

Perdi a cabeça, o coração, o fígado.
Perdi sangue na seringa da vida.

Perdi um pai.
Perdi uma mãe.
Mas não perdi minha mãe,
Essa eu não perdi.

Perdi telefones:
Números e mais números perdidos.
Perdi agendas:
Tantos compromissos perdidos.

Tem gente que passa a vida só se achando
E sempre se acha de tudo.
Mas eu perdi.

Perdi empregos que nunca tive
E sonhos que se tornaram verdadeiros.
Perdi teorias infalíveis
E “receitas mágicas de amor”.

Perdi a carteira,
A identidade,
O cartão de crédito,
E a vontade de voltar pra casa no último ônibus da madrugada.

(Mas vou andando,
Ainda não perdi as pernas,
Tenho dito.)

Perdi beijos por perder o “time”.
Perdi risos por perder a piada.
Perdi canções por perder a melodia.
Perdi rimas e perdi poesias.

Perdi Tempo,
Essa ilusão completamente real.

Haverá quem sempre se ache.
Eu até já jurei me achar.

Mas eu me perdi.

1 de nov. de 2016


O som dos veículos na avenida ali da frente,
Veiculados em minha pele e minha mente,
Dá-me sopapos de meio-dia ao cochilar;
E o pio dos pássaros, neste momento, vem me calar.

A cor do vinho que cai em mim, tão de repente,
E o seu aroma que me fez ler tanta gente,
É tão tal coisa dos sabores olvidar;
Que em minha língua se dissolvem papilar.

O cheiro terno da buceta em minha cara,
Um paletó executivo tão bem quisto,
Na tensão pós-menstrual do fim do mês.

Não tenho carro, só tenho vinho e minha vara
Que me amarram como sendo o Benedito
Pré-requisito para viver meu ex-burguês.